O 2º momento do projeto Ler+jovem aconteceu, uma vez mais, no Lar de S. Miguel. Os alunos juntaram-se aos idosos que não estavam doentes e com eles partilharam a tarde.
Mas esta reunião não foi ocasional. Tudo foi preparado cuidadosamente. Desta vez foram os menos jovens a terem uma participação mais ativa na atividade. Os mais novos não sabiam de nada.
Os mais velhos:
- Bordaram lenços de namorados:
- Fizeram flores de namorar:
- Escreveram postais de namorados que ofereceram aos alunos e aos coordenadores do projeto e que foram lidos na presença de todos:
- Pintaram um quadro:
- Contaram as suas histórias de amor e paixão, tendo dito estas palavras lindas, que transcrevemos:
Registo de histórias na
primeira pessoa.
Relato das vivências
amorosas no namoro, na juventude dos protagonistas, lançado que foi o desafio
para partilharem connosco as suas memórias.
D. Derlinda
“- O AMOR É LOUCO!!!”
“- No nosso tempo tínhamos
de andar às voltas, escondidas. Às vezes eles subiam às árvores para nos ver…
Ele (referindo-se ao
pretendente!) não podia chegar à frente,
porque não tinha ordem.”
- E quem é que lhe dava essa
ordem? – quisemos saber.
“ – Era a pessoa
(referindo-se à rapariga sua pretendida). Nem todos serviam!”
- E como se conheciam? –
perguntámos.
“- Conheciam-se na doutrina,
na escola…E a gente percebia muita coisa… Sabe?! Era o tempo da Maria Cachucha/Castanha(?),
das almotolias de barro…
D.
Carolina
Quando o viu pela primeira
vez, certa ocasião em que passou com familiares por sua casa, olhou--o e disse
de si para si:
- “Este era porco p´ró meu curral!!...”
E vieram a namorar.
Ele ia a sua casa por
diversas vezes almoçar. E, revivendo esses momentos, adiantou:
“- Mas a minha mãe, muito
esperta, deixava a menina ao pé de nós. E a garota guardava-nos sempre. À
despedida íamos ao canto da sala grande e dávamos um beijo. Era perigoso!...”
Contou que um dia um homem os
viu, cá de fora, e foi logo espalhar a novidade:
“- Ai a filha da minha
comadre! Ele deu-lhe um beijo!!!”
Completando a sua história,
contou:
- Depois ele foi para
Lisboa. Andámos três anos a trocar cartas de amor. Cartas p´ra lá e p´ra cá!” No final casaram na Igreja, pois então!
Sr.
Carlos
“- Naquele tempo havia um
rancho folclórico lá na terra. Um primo convidou-me para ir para esse rancho
folclórico. À noite tinham bailarico. Comecei a admirá-la. Ela começou a olhar
para mim e eu para ela…
Iamos namorando às
escondidas! Ela ia à fonte. (nesse tempo ainda não havia água canalizada.) A
mãe dela ia espreitá-la. Eu escondia-me atrás de um loureiro. Ela chegava a
casa e, se não via a mãe, despejava a água no pátio e voltava a ir buscar outro
cântaro de água à fonte… Os pais dela não
me podiam ver!
Quando nos casámos o filho já comeu da boda!”
Sr. Reis
“ – A minha história é muito
longa, muito complicada!...”
“- Mas conte-nos… Onde a
conheceu?” - insistimos, provocadores…
“- Conheci-a cá em Nelas. Eu
trabalhava na construção civil, nas Quatro Esquinas. Ela é de Tonda e
trabalhava em casa de umas senhoras.
Todos os dias ela passava
quatro vezes à frente do meu trabalho. Parecia uma boneca!!!! Ia à estação
esperar um senhor que vinha do Luso. Ia buscá-lo e levá-lo ao Rápido (o comboio mais importante da
linha da Beira Alta, nessa altura).
Um dia pensei: Hoje vou esperá-la…”
E lá se encheu de coragem, o
Sr. Reis, e aproximou-se. Receoso, avançou:
“- Ó menina, preciso de
falar consigo. Esta roupa é do trabalho, desculpe, não é roupa para falar
consigo…
E ela:“- Agora não posso! Só sendo amanhã, que vou ao chafariz buscar água!”
No dia seguinte lá estava o amigo Reis,
no chafariz. E todos os dias ia ao chafariz. Até que as patroas dela souberam e
disseram que não queriam que andássemos a namorar nos cantos. E passámos a
namorar à porta.”
O tempo foi passando e quis
então o Sr. Reis aproximar-se da família dela, que residia em Tonda. Os acessos
naquele tempo eram difíceis. Tinham de apanhar o comboio até Santa Comba Dão e
mudar para uma caranguejola até Tonda. Viagem atribulada de quatro horas. Então
pensaram numa alternativa…
“- A primeira vez, fomos de
comboio até Oliveirinha. Estava um irmão dela à espera e fomos a pé, duas horas.
Ela ia aos sábados. Era sempre duas horas a
butes.!”
O Sr. Reis contou ainda que nessa
primeira vez que foi com ela para Tonda, nada disse à família. E foram contar
ao pai…
“- Quando voltei foi um problema! Mas compreenderam… E todos os domingos
gramava duas horas a pé, porque
gostava dela! Um dia ela disse-me: Já
estou farta desta vida!!! E casámos. Casámos em 8 de novembro de 1945. Até
hoje!”
Oram vejam um pouco mais...
Os alunos retribuíram com poemas de amor de Camões («Amor é fogo que arde sem se ver», «Perdigão perdeu a pena», «Descalça vai pera a fonte») , com sketches teatrais e com uma rosa que ofereceram às suas «amadas». Os coordenadores do projeto leram, no âmbito da mesma temática, poemas de Florbela Espanca e Eugénio de Andrade. Criou-se um ambiente intimista, mesmo bom para falar de algo que nos faz bem: o AMOR... e tudo a partir de textos, e tudo a propósito dos livros. Aliás, estes acompanharam-nos, em formato papel e digital, e ficaram por lá no «baú dos afetos» prontos para proporcionarem momentos de descontração e felicidade a quem os utilizar. Se as palavras são escassas, as imagens falam por si: